FARSA DE INÊS PEREIRA
Farsa de Inês
Pereira
A Farsa de
Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, na qual retrata a
ambição de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por
aqueles que duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma peça
que comprove o provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me
derrube".
Toda a peça
gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena. As
didascálicas são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só
pautada pela entrada ou saída de personagens.
Resumo
As farsas, baseiam-se em temas da vida quotidiana, tendo um
enredo cómico e profano. A Farsa de Inês Pereira parte de um provérbio: «mais
quero asno que me leve, que cavalo que me derrube». Esta farsa censura os
«homens de bom saber» que constitui uma referência direta ao público cortês.
Esta era dotada de uma incontornável vertente não só dramática mas
acentuadamente teatral.
Inês Pereira,
moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja astuto
e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e casamento,
incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira
Lianor Vaz, no entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e
inculto. Pero Marques, nunca viu sequer uma cadeira,
e isso não deixa de provocar o riso, assim funcionando como mecanismo
subliminar o autoelogio da Corte.
Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre
alguma cortesia, alguém que, à boa maneira da Corte, saiba combater, fazer
versos, cantar e dançar, alguém como Brás da Mata, o segundo pretendente, que
lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um pouco menos sinceros e
bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata representa apenas o
triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa -educação e bem-estar
social, que acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras.
Este casamento
depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido
astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá
ordens ao seu moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez
que sair à rua. Brás da Mata, era um escudeiro falido que casou com Inês de
forma a poder aproveitar-se do seu dote.
Três meses
após a sua partida, Inês recebe a prazerosa notícia de que o seu marido foi
morto por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que
Lianor Vaz traz-lhe a noticia que Pero Marques, continua casadoiro, de resto
como este tinha prometido a Inês aquando do primeiro encontro destes.
Inês casa com
ele logo ali, e já no fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da
protagonista.
O ditado “mais
quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser melhor
representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros
até ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”.
Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida
doméstica, jogando com o tema medieval da mulher como personificação da
ignorância e da malícia.
Personagens
·
Inês:
representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se
casa duas vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não
conseguindo casar-se na primeira tentativa, garante-se na segunda, com o marido
ingénuo. Apesar de seu comportamento impróprio, consegue até mesmo a simpatia
do público pela inteligência com que planeja seus passos.
·
Lianor
Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava
casamentos, revelando que a base da família está corrompida.
·
Mãe:
apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e
torna-se cúmplice das atitudes dela.
·
Pero
Marques: é o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar de ser
ridicularizado por Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o
traía.
·
Escudeiro:
Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de
"bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua
casa mas ele é morto por um mouro.
·
Moço:
era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com
ela.
·
Ermitão:
era o amante de Inês que depois se torna num padre.
·
Latão e
Vidal: judeus casamenteiros.
Tempo
É um
tempo dilatado, tendo o espectador
dificuldade de se aperceber da sua passagem
Cómico
Encontramos, nesta farsa, cómico
de situação ou de personagem em Inês, Pero Marquez e no
escudeiro; de situação na cena de
‘’namoro’’ de Inês com Pero Marquez; de
linguagem na carta e linguagem de Pero Marque e na fala dos judeus
casamenteiros. Podemos considerar as rezas e as pragas (esconjuros) como cómico de linguagem.
Objetivo da crítica vicentina
Gil Vicente critica:
·
A mentalidade das jovens raparigas;
·
Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras;
·
A selvajaria e ingenuidade de Pero Marquez;
·
As alcoviteiras e os judeus casamenteiros;
·
Os casamentos por conveniência;
·
Os clérigos e os Ermitões.
Estrutura da peça
Nesta
farsa não existem divisões cénicas,
mas é possível dividi-la em 3 atos.
De assinalar a importância da divisão em espaço interior e exterior. De notar o
paralelismo presente nos contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do
monólogo e diálogo inicial da peça, e no monólogo e diálogo ocorridos após a
noticia da morte de Braz da Mata. É através destes paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança
ocorrida com Inês.

Concluindo
Desta ação
pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade, encontrada junto de Pero Marquez.
A unidade da ação é dada pelo tema e
pela personagem principal, Inês Pereira.
Não há dúvida
de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não acreditavam, e
com esta peça, ser de facto, o grande
criador das obras que fazia representar.

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