Os Castelos D. Afonso Henriques Fernando Pessoa Análise
Os Castelos
D. Afonso Henriques
Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam
A bênção como espada
A espada como bênção!
D. Afonso Henriques → sistematização
D. Afonso Henriques é apelidado pelo poeta de “Pai”. Ele é, simultaneamente, “Pai” e “cavaleiro” – Pai, porque fundador da nacionalidade e, por isso, pai dos portugueses; cavaleiro, porque, com a “espada”, defendeu e conquistou o território português, mas também se assumiu como defensor da fé.
Então, o poeta pede-lhe que, nos dias de hoje, ele sirva de exemplo aos portugueses e que a sua força inspire a uma ação que vença os “novos infiéis”, ou seja, todos aqueles que se opõem à missão espiritual e providencial de Portugal que, para o poeta, é uma certeza inabalável.
Espada:
• Confere luminosidade (tudo à sua volta se torna claro);
• Defesa dos valores (morais, religiosos, nacionais);
• Símbolo de cavalaria união mística entre o cavaleiro e a espada; ~
• Valor profético;
• Símbolo:
- Da Guerra Santa → da guerra interior;
- Do verbo, da palavra;
- Da conquista do conhecimento;
- Da libertação dos desejos;
- Da espiritualidade;
- Da vontade divina
D. Afonso Henriques → intertextualidade
Em nenhuma outra cousa confiado,
Senão no sumo Deus, que o Céu regia,
Que tão pouco era o povo batizado
Que para um só cem Mouros haveria.
Julga qualquer juízo sossegado
Por mais temeridade que ousadia
Cometer um tamanho ajuntamento,
Que para um cavaleiro houvesse cento.
Cinco Reis Mouros são os inimigos,
Dos quais o principal Ismar se chama;
Todos exprimentados nos perigos
Da guerra, onde se alcança a ilustre fama.
Seguem guerreiras damas seus amigos,
Imitando a formosa e forte Dama,
De quem tanto os Troianos se ajudaram,
De quem tanto os Troianos se ajudaram,
A matutina luz serena e fria,
As estrelas do Pólo já apartava,
Quando na Cruz o Filho de Maria,
Amostrando-se a Afonso, o animava.
Ele, adorando quem lhe aparecia,
Na Fé todo inflamado assim gritava:
— "Aos infiéis, Senhor, aos infiéis,
E não a mim, que creio o que podeis!"
N’Os Lusíadas, como não podia deixar de ser, é dado um destaque enorme
a D. Afonso Henriques, figura que preenche as estrofes 28 a 84 do canto III. Ele é
o fundador da nação, o escolhido por deus que legitima o seu poder ao aparecerlhe na batalha de Ourique. De resto, a lenda de Ourique, muito alimentada desde
o século XVI, serviu para conferir uma dimensão sagrada ao nascimento de Portugal. Na Mensagem, curiosamente, o poema dedicado a D. Afonso Henriques não
refere a lenda, mas ela está lá, implícita, através da espada/bênção.
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